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Da cultura popular ao erudito: A ascensão da viola caipira no Brasil em uma trajetória monológica a uma possível polifonia
Lucas Guilherme Schafhauser, Angela Maria Rubel Fanini

Última alteração: 2017-06-05

Resumo


O presente estudo foca-se na trajetória percorrida pela viola caipira no Brasil, desde sua chegada com os colonizadores portugueses até os dias atuais. Concentramo-nos em verificar a afirmação do músico Fernando Deghi: "Este é o século da viola". Para isso, foram reunidas informações que apontam para o fato da viola estar ou não em ascensão.  Nossa perspectiva está pautada no viés da Luteria, na iconografia e na perspectiva da Análise do Discurso (Mikhail Bakhtin e o Círculo). Procedemos ao levantamento do número de festivais que envolveram a viola caipira (busca de cartazes em meios virtuais), das pesquisas acadêmicas sobre e das orquestras de viola caipira, observando se houve um aumento da busca pelo instrumento nos últimos anos. O termo 'viola' nomeia vários tipos de instrumentos, desde dedilhados até friccionados. Assim, essa palavra é polissêmica, não identificando sempre o mesmo instrumento, fazendo-se necessário o uso da iconografia para essa identificação. No decorrer da pesquisa, deparamo-nos com tese de Saulo Dias (2010), em que se apresenta um levantamento de dados sobre as orquestras e escolas de ensino de viola, os quais corroboram com a ideia da viola estar em expansão. O universo da viola caipira tem sido, até o final do século XX, objeto de pouco estudo. O instrumento chega ao Brasil no século XVI, mas se mantém em cenário não erudito, ganhando cadeira em conservatório de música apenas em 1985. Esse afastamento está mormente ligado ao fato da viola caipira ter sido predominantemente um instrumento de uso popular, sobremodo das culturas de classe economicamente menos privilegiadas e distantes do modo de vida das cidades grandes (o homem do "mato", o caipira, o Jeca Tatu), sendo, não raras vezes, objeto de depreciação, sátira e desqualificação. Em 1930, com as primeiras gravações de músicas de viola e do interesse de emissoras de rádio pela música caipira, houve um primeiro período moderno de apreço ao instrumento. Nos anos 1980, surge um grande interesse na composição e execução de música instrumental para viola, abrindo assim o leque de uso da viola e atraindo novos personagens para essa história. Com o presente trabalho, argumentamos que a viola está, sim, em ascensão. Acreditamos ser precipitado afirmar que esse será o "século da viola", mas podemos asseverar que se a sua presença na sociedade continuar nessa progressão, a viola vai estar sentada na mesma mesa dos instrumentos musicais mais importantes desse século. A trajetória da viola se dá em um ambiente musical monológico, abafando a voz da viola, mas essa voz tem se fortalecido e talvez venha a se posicionar polifonicamente junto aos outros instrumentos musicais.


Palavras-chave: Cultura Musical. Cultura popular. Viola Caipira. Polifonia e Monologismo.

 


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