Portal de Eventos Científicos em Música, 6º Congresso Brasileiro de Iconografia Musical

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Iconicidade em música ubíqua
Brendah Freitas, Carlos Mario Gómez Mejía, Marcos Thadeu de melo, Marcello Messina, Ivan Simurra, Damián Keller

Última alteração: 2021-04-29

Resumo


Na nossa proposta discutimos a aplicação do conceito de iconicidade no campo da música ubíqua (ubimus), apontando para as convergências entre a pesquisa em iconografia musical e a pesquisa ubimus. Propomos um enfoque ubimus para a iconografia musical abrangendo formatos eletroacústicos e instrumentais, focando interações além do material sonoro. Nesse contexto, apresentamos um exemplo musical, a obra Tocaflor. 

    A iconicidade estabelece um vínculo entre as expressões linguísticas e as experiências humanas, sua variabilidade indica um equilíbrio delicado entre dois requisitos: 1. A necessidade de conectar a linguagem com a experiência real (ancorada em elementos do ambiente); e 2. A necessidade de um sistema de comunicação flexível (através de mapeamentos arbitrários entre os símbolos linguísticos e a experiência cotidiana). Esses dois fatores (a ancoragem e os mapeamentos arbitrários) fornecem um leque de estratégias que podem ser usadas para compartilhar conhecimentos. Desta feita, a iconicidade pode ser aplicada nas escolhas estéticas durante a criação sonora, envolvendo recursos visuais e verbalizações. 

Tocaflor é uma peça multimídia projetada para dois instrumentos acústicos, executados de forma síncrona com um recurso audiovisual (ou partitura em vídeo) e uma trilha eletroacústica estéreo. Na proposta participaram um clarinetista e um violonista, que não tiveram contato prévio com os materiais. As imagens que compõem a partitura consistem em flores com padrões de linhas ou pontos com alto grau de contraste entre as cores (potencialmente úteis como sistemas de referência para algum parâmetro musical). Os sons foram colhidos no mesmo local que as imagens e consistem em cantos de pássaros numa faixa de frequências mais alta do que a utilizada pelos instrumentos acústicos, funcionando como uma camada sonora independente. Como resultado temos uma partitura audiovisual de 5:20 minutos de duração, projetada para os músicos e o público. A codificação das alturas foi baseada na notação tradicional (utilizando 5 linhas e 4 espaços) de acordo com a disposição das flores sobre as linhas do pentagrama. Em contraste com o fundo cinza, as flores vermelhas representam as alturas tocadas pelo violino (mais agudas) e as cores amarelas pela clarineta (sons mais graves). O eixo horizontal da partitura apresenta o fluxo do tempo através de um cursor temporal, onde as linhas mudam de cor, indicando quando cada evento deve ser executado. 

O exemplo musical sugere que os sistemas visuais icônicos, baseados em elementos dinâmicos, podem ser usados na transferência de conhecimento musical. Assim, as relações espaciais entre elementos visuais (abrangendo cores, formatos e outros parâmetros) podem ser atreladas a parâmetros sonoros específicos. Os mecanismos de suporte podem também incorporar informações temporais a partir de um sistema de referência compartilhado, ou podem ser usados como eventos livres e sem relações pré-determinadas entre si. Essas estratégias no uso da iconicidade, dentro da prática musical ubíqua, fornecem uma via de acesso aos conhecimentos implícitos nas atividades musicais colaborativas, viabilizando novas possibilidades de participação no fazer musical. 



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