Última alteração: 2021-04-29
Resumo
Apanhando o mundo de surpresa, a pandemia COVID-19 veio obrigar a uma nova organização do mundo académico, assumindo-se novas formas de trabalho. Foi necessário, por parte de investigadores por todo o mundo, uma rápida transformação e adaptação: o virtual rapidamente suplantou o presencial e novas formas de colaboração à distância surgiram, não sendo excepção a iconografia musical. A presente comunicação vem apresentar resultados desta colaboração. Visa, em primeiro lugar, apresentar o projecto desenvolvido entre Brasil e Portugal, focado na produção e recepção da obra caricatural de Rafael Bordalo Pinheiro durante a sua permanência no Brasil, com vista a mapear na obra do caricaturista aspectos de crítica de imprensa sobre o quotidiano musical brasileiro na segunda metade do século XIX. Em segundo lugar, pretende analisar questões de contexto histórico-musical sob o ponto de vista dos conceitos de “espaço da experiência” e “horizonte da expectativa” (Reinhart Koselleck), uma vez que Bordalo integrava uma geração de artistas que, quer em Portugal, quer no Brasil, lidava com tempos de crise e mudança: em Portugal, agitavam-se valores republicanos e no Brasil, configurava-se uma crise relativamente ao governo imperial. O que nos coloca como possibilidade analisar esse conjunto iconográfico também como um “ato de fala”, a partir do qual se anunciam e se manifestam intenções, representações, valores e projetos intelectuais. Este facto conduz-nos ao terceiro ponto tratado nesta comunicação e aos conceitos de “política das sensibilidades” e “sensibilidade política” (Esteban Buch), demonstrando que a iconografia musical pode ser espaço de experiência para a sua aplicação em novos estudos.