Última alteração: 2021-04-29
Resumo
O Koto é um instrumento de cordas da família das cítaras com ponte móvel tem sua origem no Japão a partir de duas hipóteses: é resultado do aprimoramento dos instrumentos chineses que predominavam no Período Nara; o músico de Gagaku Fujiwara no Sadatoshi importou da China para o Japão no século IX (MALM, 2000). Acreditamos que a longevidade do Koto é devido à busca em manter seus elementos constitutivos inalterados e essa forma de estruturar socialmente os grupos artísticos é chamado de Iemoto Sēido. Esse sistema que literalmente significa sistema de grão-mestre faz com que decisões sobre ensino/aprendizagem, escolha de repertório entre outros aspectos sejam feitas apenas pelo Iemoto de cada escola (HALLIWELL, 1994), atitude semelhante ao processo de descendentes protegendo a “família” a fim de garantir a preservação da tradição. Utilizando de diversos comparativos entre a música ocidental com a japonesa, Patrick Halliwell (1994) promove uma reflexão a respeito das vantagens e desvantagens desse sistema e dedica sua escrita majoritariamente para as consequências didáticas e performáticas, abordando pouco as implicações sociais. Atualmente no Japão há duas principais escolas de Koto: a Yamada-ryu e a Ikuta-ryu e apesar das distâncias geográficas, segundo a Associação Brasileira de Música Clássica Japonesa (ABMCJ) em território nacional existe apenas as duas correntes da Ikuta: a Miyagi-kai e a Seiha Brasil de Koto. Como Halliwell auxilia a compreender esse sistema singular e atualmente não há pesquisas nacionais em paralelo, esse trabalho possui o objetivo de verificar as consequências e refletir sobre a importância do Iemoto Sēido desterritorializado. Partindo da literatura específica notamos que no Kojiki, obra que narra à criação do Japão, é estabelecida a tradição em relacionar a figura do imperador a uma posição de divindade e a atitude de preservar a tradição da “família” possui respaldo no Shinto que não separa o divino do humano, sendo que o antepassado protege o descendente que após sua morte, realizará a mesma tarefa (TAMBA, 1988). Portanto, quando o imigrante japonês no Brasil se vê diante de uma realidade diferente da sua, sente uma necessidade de preservar sua cultura. Com isso resgata o Yamato Damashii, termo cunhado no Período Heian que originalmente busca a valorização do “espirito japonês” em oposição as culturais estrangeiras (HIRATA, 1998). Apesar de focar na fidelidade à Corte Imperial, ele também atribuía um sentimento de orgulho de suas origens que auxiliava a agir com autoconfiança mesmo diante das adversidades (OKUBARO, 2006). No koto temos a representação iconográfica desse sentimento de preservação no kanban, placa de identificação e certificação da pessoa contendo seu nome artístico que deve derivar do nome do Iemoto, vinculando-a a essa “família”. Portanto, acreditamos que diante do risco da transculturação, as implicações sociais são mais benéficas e importantes para a preservação dessa prática no Brasil do que as consequências que possam apresentar no ensino e aprendizagem conforme apontados por Halliwell. No entanto, pretende-se uma possível extensão dessa pesquisa por meio de entrevistas com músicos de Koto para um maior esclarecimento da relação entre Brasil e o Iemoto Sēido.
Palavras-chave: Koto. Iemoto Sēido. Yamato Damashii.
REFERÊNCIAS
HALLIWELL, Patrick. Learning the Koto. Canadian University Music Review /
Revue de musique des universités canadiennes, n.14, p.18–48, 1994.
HIRATA, Yoshinobu. O Destino do “Espirito Japones”. Estudos Japoneses, n. 18, p. 23-35, 1998.
MALM, William P. Tradicional Japanese Music and Musical Instruments. Tóquio: Kodansha Internacional, 2000.
OKUBARO, Jorge J. O súdito: (Banzai, Massateru!). São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2006.
TAMBA, Akira. La théorie et l’esthétique musicale japonaises: du 8 à la fin du 19 siècle. Publications Orientalistes de France. Outubro de 1988.