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Olhar Patativa do Assaré: representações do mítico sertão-gênese
Myrlla Muniz Rebouças, Beatriz Magalhães-Castro

Última alteração: 2021-04-29

Resumo


Uma fotografia de Patativa do Assaré, registrada pelo cineasta Rosemberg Cariry no contexto do seu documentário PATATIVA DO ASSARÉ - AVE POESIA, é uma das poucas em que está sem os seus famosos óculos escuros, usados para esconder a cegueira de um olho, perdido aos nove anos (dord'olhos). Como descreve Barthes, a fotografia do rosto é subversiva não quando aterroriza, perturba, ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa. Uma "imobilidade viva" que causa reflexões. O nome da sua cidade de nascimento é colocado no nome artístico para o diferenciar de tantos outros cantadores e violeiros também chamados Patativa. Assaré é um município brasileiro do interior do Estado do Ceará, oeste da chapada do Araripe, com área de 1.116 Km2 a 520 km de Fortaleza. O destino lhe marcava como marcou a Camões, mas cego poderia cantar melhor como o Assum Preto? Apesar desta limitação, com o outro olho estudou, fez suas primeiras rimas observando o cotidiano das pessoas e a natureza ao seu redor, onde sentia/percebia: "um verso em cada galho, um poema em cada flor." Além de poeta, de cantador improvisador de martelos alagoanos, de mourões, de gabinetes, de galopes à beira-mar e oitavas a quadrão, seus versos já vinham musicados pelo próprio ritmo da poesia e da métrica. Este gênio agreste herda as diferentes culturas que se misturam no processo de construção da civilização sertaneja. Um sertão universal, sertão-gênese, que não é o regional, o fechado, mas é o aberto e o universal no sentido que lhe dava Guimarães Rosa, quando dizia que "o sertão carece de fecho." O que é esse sertão real e ao mesmo tempo mítico? Como a dimensão de Patativa Assaré é representada na sua iconografia musical que o acompanha? Propomos assim discutir a representação iconográfica de Patativa do Assaré a partir do documentário de Rosemberg Cariry e em fontes diversas de forma a analisar como a riqueza intrínseca ao trabalho de Assaré é (ou não) representada, demonstrando como o viés literário-musical articula-se no imaginário imagético que circunda esta e outras místicas do sertão-gênese.

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