Última alteração: 2021-04-29
Resumo
O pouco conhecido e comentado Poemas sem Palavras, de 1903, é álbum de gravuras de Wassily Kandinsky, inserido no contexto de um projeto que busca ultrapassar integrativamente tradições artísticas definidas no limite de seus contornos exclusivos.
O título nos remete ao impactante ciclo de pequenas peças para piano, composto entre 1829 e 1843 por Felix Mendelssohn (1809-1847), intitulado Canções sem Palavras (Lieder ohne Wörte).
Kandinsky incorporou essa irônica lógica negativa de Mendelssohn ao elaborar um álbum também sem palavras, mas que, como o modelo cênico-musical de Mendelssohn, não exclui mas reforça uma textualidade, um roteiro de ações. De uma certa forma, pois, Kandinsky e Mendelssohn são complementares: embora imediatamente relacionado a mídias diversas (visualidade e som), acabam por projetar um amplo intercampo de referências e atos recepcionais.
Nesta comunicação, examino em detalhe a estrutura e composição de Poemas sem Palavras, explicitando as referências acústicas que se constituem em horizonte da modelação das figuras, formas e tramas registradas nas gravuras. Assim, ao mesmo tempo, a elaboração das gravuras correlaciona a materialidade do suporte expressivo com padrões psicofísicos e experiências audiofocais (auditory perception).
Referências BibliográficasARONOV, Igor. Kandinsky's Quest. A Study in the Artist's Personal Symbolism, 1866-1907. New York: Peter Lang, 2006.
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KANDINSKY, Wassily. Mes gravures sur bois. XXéme Siècle, 1.3, pp. 19-31, 1938.
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