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A flauta doce nas artes visuais: imagens e representações de um instrumento musical
Luciana Rodrigues Gifoni

Última alteração: 2017-06-09

Resumo


A pesquisa envolve o estudo do instrumento musical flauta doce para além de suas características técnicas e organológicas, concentrando-se em observar um sentido mais amplo deste artefato a partir de representações encontradas em diversas obras de arte da cultura ocidental. Deste modo, propomos uma investigação das imagens e representações da flauta doce enquanto objeto cultural e simbólico. A questão central é: quais associações simbólicas e imagéticas são mais recorrentes na iconografia da flauta doce nas obras de arte? O objetivo consiste em possibilitar um acesso diferenciado à compreensão do fazer musical ligado a este instrumento, partindo das valiosas informações que as obras de arte nos apontam, a fim de contribuir com a busca de novos horizontes nos estudos da flauta doce. Em geral, a discussão iconográfica do instrumento surge, em métodos e livros especializados, no âmbito do interesse por informações técnicas que sustentem uma performance historicamente informada, com ênfase para as ilustrações publicadas em tratados antigos, como, por exemplo, o Fontegara (1535) de Ganassi e o Syntagma musicum (1614-20) de Praetorius. Para constituir o corpus desta análise, tomamos como referência a base de dados do RIdIM internacional e brasileiro (resultados da busca dos verbetes Flauta doce, Recorder, Alto Recorder, Bass Recorder, Duct Flute, End-blown Flute, Flageolet) e das reproduções iconográficas que constam em obras de autores da literatura especializada - tais como Winternitz, Roland-Jones e Lasocki, para citar alguns -, algumas delas não catalogadas no RIdIM. Este corpus inicial totaliza cerca de 150 obras. No entanto, sendo nossa abordagem qualitativa, propomos a seleção e o exame de algumas delas, pela identificação das temáticas pictóricas em que a flauta doce se destaca e dos valores que o artista busca ressaltar com sua representação, com ênfase no contexto cultural e histórico das obras. Assim, nossa análise aproxima-se de uma linha interpretativa da história cultural, interessada na noção de leitura como processo de construção de sentidos, tal como defende Chartier (2002), quando valoriza a problemática do "mundo como representação", conduzindo-nos "a uma reflexão sobre o modo como uma figuração desse tipo pode ser apropriada pelos leitores dos textos (ou das imagens) que dão a ver e a pensar o real". No corpus, observamos que há uma predominância da pintura sobre outros tipos de expressão, abrangendo desde as iluminuras medievais até as técnicas modernas de Picasso e Portinari, por exemplo. Apontamos, também, a discussão de sentido dos aspectos mais emblemáticos: a música dos anjos, o universo sonoro dos pastores e da natureza, e a exploração da sensualidade, pontuando prazeres e pecados humanos. Procuramos ainda estabelecer relações de sentido com as imagens e representações da flauta doce no mundo contemporâneo, apropriadas e (re)construídas a partir do renascimento deste instrumento face ao movimento da música antiga, no início do século XX.

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