O ornamento pode ser muito mais do que um simples elemento decorativo, um mero artifício ilusório. Diversos são os significados atribuíveis aos ornamentos, seja como recursos ou meios, conferindo honra e dignidade a quem os utiliza ou ao local onde se aplicam. Os elementos ornamentais podem ser encontrados como ocorrências formais na arquitetura e na arte e, nesse universo, em diferentes linguagens ou manifestações. Além das ocorrências ornamentais, representativas e de óbvia ligação para com o universo da música - como os instrumentos esculpidos em relevos ou referências a partituras - é possível encontrar ligações entre as expressões ornamentais escultóricas e as musicais, principalmente no que diz respeito a questões fundamentais aos dois campos, o que, na acepção clássica, envolveria questões como o equilíbrio, o ritmo e a harmonia. A presente palestra apresenta análises desenvolvidas em torno de um patrimônio artístico do mundo português, concentrado principalmente entre os séculos XVII e XVIII, que impregnado de elementos iconográficos, pode ilustrar essas relações, mostrando que além da conceituação e das concepções, a materialização das ideias nas linguagens escultórica e musical ocorre por meio de um absoluto domínio técnico sobre suportes físicos, em meio a um amplo e específico universo sintático.