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Wagner colométrico: Visualidade, metro e música
Marcus Mota

Última alteração: 2023-11-01

Resumo


Wagner colométrico: Visualidade, metro e música

 

Durante sua carreira Richard Wagner (1813-1883) se envolveu, entre outras questões, com tradições poéticas diversas. Na preparação e realização de seu projeto do Anel, Wagner estudou, teorizou e produziu versos aliterativos em larga escala, tanto aproximando-se da tradição germânica antiga, quanto afastando-se das reacriações de metros gregos antigos, as quais definiam a poesia e a ópera de seu tempo.

Paradoxalmente, aquilo que ele vai encontrar nos versos aliterativos – flexibilidade e liberdade de frases rítmicas – estava presente das seções corais da dramaturgia ateniense antiga. Nessa dramaturgia, inscreve-se na página do manuscrito uma diversidade padrões métricos que busca registrar o fluxo das performances cênicos musicais.

Chave para esse registro é o conceito de colometria, que mixa o design da página (mise- en- page) e a composição rítmica da performance ( mise-en-scene). Colometria era a técnica pela qual os editores de textos antigos analisavam as frases rítmicas de obras performativamente orientadas e produziam sua distribuição em uma textualidade específica. Assim, no período helenístico, gramáticos alexandrinos receberam cópias das tragédias e comédias e estabeleceram edições críticas a partir tanto da língua, quanto dos metros e notações musicais disponíveis.

Durante a vida de Wagner, assiste-se, por parte da filologia reinante, a busca por regularização das seções métricas corais, com a negação crescente da erudição métrico-musical antiga em prol de uma concepção mais centrada na linguisticidade. A musicalidade desses textos é compreendida a partir dos parâmetros da música europeia erudita entre 1750 e 1820, com a aplicação do conceito de isocronia, resultando em versos entendidos como frases musicais compostas de unidades de igual duração e iniciadas por acentos fortes (Lomiento, 2022, p.8).

Nesta comunicação busca-se tornar compreensível como as inquietações e insatisfações de Wagner frente aos modelos poéticos herdados situam a adoção do verso aliterativo em uma mais ampla dimensão: a realização de eventos multissensoriais que, entre seus efeitos, impulsiona uma escrita que negocia em sua visualidade na página com registro e mapeamento de dinâmicas métrico-rítmicas. Não é à-toa que se pode observar uma correlação entre a microestruturação do drama musical wagneriano no uso de versos aliterativos e sua macroesturuturação na audiovisualidade dos “temas condutores” (Borchmeyer, 1991, p. 150-159).

 

 


Palavras-chave


Richard Wagner, Dramaturgia Musical, Colometria

Referências


Referências

BORCHMEYER, Dieter. Richard Wagner. Theory and Theatre. Oxford: Clarendon Press,1991.

GENTILI, Bruno & LOMIENTO, Liana. Metrics and Rhythmics. History of Poetic Forms in Ancient Greece. Pisa/Roma: Fabrizio Serra Editore, 2008

LOMIENTO, Liana. Ancient Greek Metrics and Music: Is It Time for a New Dialogue? Greek and Roman Musical Studies, p. 1–26,2022.

WAGNER, Richard. Oper und Drama. Klaus Kropfinger (Ed.) Leipzig: Reclam, 2008.

WAGNER, Cosima. Martin Gregor-Dellin, Dietrich Mack (eds.). Cosima Wagner: Die Tagebücher. 2 Bände. Piper: München,  1976–1978.

 


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