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Arquivo Ronoel Simões: possibilidades para reconstrução de trajetórias e repertórios para violão
Flavia Prando

Última alteração: 2017-05-31

Resumo


O arquivo Ronoel Simões[1], construído ao longo de sessenta anos pelo colecionador e violonista, é um dos maiores acervos de partituras e gravações de violão dedilhado do mundo e foi adquirido pela prefeitura de São Paulo em 2010. No ano de 2016, a Discoteca Oneyda Alvarenga, situada no Centro Cultural São Paulo, disponibilizou o este acervo, ainda em fase de catalogação, ao público. Até o momento, foram enumerados 8 550 discos, 7 000 CDs, 800 cassetes e 120 fitas de rolo.

Simões inicia sua coleção na década de 1940. Na década de 1950, teve a ideia que trouxe o maior diferencial da sua coleção: passou a levar seus ídolos a estúdios e gravar, por conta própria, os chamados acetatos. "Hoje, são registros únicos da arte de muitos dos grandes violonistas do país"[2]. Alguns dos violonistas cuja obra sobreviveu grande parte graças à coleção de acetatos e fitas de rolo de Ronoel Simões são: Américo Jacomino o Canhoto, José Lansac, Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, Agustin Barrios, Othon Salleiro[3].

Muitas gravações estão em fita de rolo, e aparecem em fita cassete e da fita cassete para o CD. O que demonstra que o colecionador preocupava-se com a atualização do formato. Não fazia isto de maneira ordenada e linear, porém preocupava-se em atualizar o formato, tanto para preservar quanto para difundir o material, pois era grande o número de violonistas e pesquisadores que buscavam o acervo, sobretudo na era pré rede mundial de computadores. 

Esta comunicação é parte de uma pesquisa de doutorado em andamento que pretende traçar um panorama do violão nas décadas de 1920 e 1930 na cidade de São Paulo. As gravações serão o ponto de partida para análise do repertório e das técnicas utilizados pelos instrumentistas e o presente acervo será o ponto de partida de nossa abordagem.

Neste acervo constam os grandes e médios violonistas, uma vez que Simões não fazia juízo de valor, tendo colecionado tudo que foi possível de violão dedilhado. Neste sentido seu acervo possibilitará traçar um panorama bastante alargado do instrumento, não somente dos cânones, apresentando-se como uma potente fonte de possibilidades de reconstrução de repertórios e trajetórias de violonistas e do ambiente violonístico do século XX.


[1] Ronoel Simões (1921-2010) paulista, violonista, pesquisador e colecionador. Constituiu o maior acervo de partituras e gravações de violão do Brasil.

[2] Em entrevista a Fabio Zanon, em: < http://vcfz.blogspot.com.br/2007/02/60-ronoel-simes.html>, acesso em 10 abr.2017.

[3] A obra de Othon Salleiro foi transcrita do áudio para partituras na dissertação de mestrado defendida pela autora desta comunicação. Gravou na década de 1960 o único e elogiado LP, O Violão Brasileiro, pelo selo Brasil Musidisc. Em 1950, Othon Salleiro gravou 15 músicas  nos estúdios da RGE, em São Paulo, estas gravações foram cedidas por Ronoel Simões para nossa pesquisa, possibilitando a recuperação da obra do violonista carioca.