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O jovial Antonio Rodil, segundo Sigurta. Interpretação iconológica da gravura existente no Museu Nacional de Soares dos Reis
Arley Rodrigues, Márcio Páscoa

Última alteração: 2017-06-10

Resumo


A gravura em buril do flautista espanhol Antonio Rodil (ca.1730-1788), concebida por Luigi Sigurta (17...-17...) e gravada por Giovanni Vitalba (1738-1792), pertence ao acervo do Museu Nacional de Soares dos Reis, localizado na cidade do Porto, Portugal. (ANDRADE, 2005). Outro exemplar também pode ser encontrado no departamento de música da Biblioteca Nacional da França. (BNF, 2010). O gravurista Luigi Sigurta realizou um retrato em semi perfil, que nos faz perceber uma pessoa com aparência jovial, postura e trajes elegantes, além de possuir um leve sorriso de satisfação. O conjunto dessas características nos transmite o que seria a aura idealizada de um típico representante do período galante.

Ainda que a gravura retrate Rodil de maneira monocromática, nós podemos perceber que o músico está trajando uma vestimenta com cores e ou tons diversos, bem à maneira francesa em voga naquele período. Em volta do seu pescoço vemos um lenço de cor branca que delicadamente recai sobre o seu colete, de tonalidade mais escura que o lenço, entretanto de um tom mais claro que a casaca.  É possível perceber que a casaca utilizada por Rodil possui um requintado contraste de cores, evidenciando uma tonalidade mais clara nas bordas da lapela, cor esta que também compõe o interior da casaca e literalmente brilha por meio das modulações de luz e sombra. Sobre a cabeça dele vemos uma peruca, provavelmente branca, ou poderia ser o seu próprio cabelo, visto que na parte de trás da cabeça é possível ver uma prolongação que dá a ideia de ser um cabelo comprido.

O aspecto que mais nos intrigou em relação à análise dessa gravura, foi aquele relacionado à possível função estética desempenhada pelo medalhão que delimita o espaço da obra criada por Sigurta. Principalmente em razão da opção do autor por retratar a forma ovalar do medalhão com cinco visíveis marcas de rompimento da estrutura, em especial uma dessas marcas, que se encontra localizada na parte logo a baixo do personagem retratado, no lado esquerdo. Estas marcas na estrutura ovalar do medalhão parecem emprestar ao mesmo um sentido de que a estrutura é feita de pedra, ou mesmo de mármore. Neste sentido, poderíamos especular que talvez a escolha dessa proposta de expressão se deva ao interesse do artista de fazer uma citação que remeta a uma estética renascentista, de valoração da arte grega. Tal citação talvez emprestasse à obra, e em última análise também ao artista retratado, um sentido de preservação de uma tradição clássica idealizada. A escolha dessa estratégia representativa, eventualmente, também poderia ter sido estabelecida para criar um contraponto frente a uma possível percepção negativa em relação ao aspecto jovial do músico retratado.

 

Referências Bibliográficas:

ANDRADE, Alexandre Alberto da Silva. A Presença da Flauta Traversa em Portugal de 1750 a 1850. Dissertação de Doutorado. Universidade de Aveiro – Departamento de Comunicação e Arte, 2005. p. 338-353.

 

BNF, Bibliothèque nationale de France. Rodill / Antonio / 0220. Sei Duetti per due flauti traversi.... [1774]. Source gallica.bnf.fr. 2010.


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