Última alteração: 2018-07-30
Resumo
Este artigo pertence a um estudo maior que pretende desenvolver uma análise iconográfica de uma série de pinturas que representem mulheres em ambientes musicais, dentro do período estilístico da Arte Acadêmica Brasileira no século XIX. Os estudos históricos das mulheres na música costumavam ser tradicionalmente focalizados em relatos de mulheres excepcionais como intérpretes e compositoras, ou então associados com a literatura sobre a música como um componente tradicional de socialização e educação das mulheres. Neste contexto, o gênero é tratado como um conceito socialmente construído com base nas diferenças percebidas entre os sexos e uma forma primária de significar relações de poder. (TICK, 2014) A abordagem utilizada será a pesquisa histórica, com ênfase na análise dos resultados pelos métodos de estudo da Iconografia e Iconologia propostos por Erwin Panofsky. Filipa Vicente (2012) aborda o duplo processo de exclusão sofrido pelas mulheres artistas – “o da história vivida e o da história contada” -ressaltando que somente nas últimas décadas surgiu uma investigação mais consistente na historiografia da arte com uma abordagem feminista. A pesquisa partirá do levantamento de obras pictóricas que representem a mulher no cenário musical pelo viés da arte acadêmica brasileira. Para a pesquisa das fontes primárias serão consultados os acervos da Pinacoteca do Estado do Amazonas, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Museu Nacional de Belas-Artes (RJ); serão utilizados ainda, catálogos de arte com consulta online. As fontes secundárias compreenderão o suporte de publicações que dialoguem com o tema, sendo estes, história da arte, iconografia, iconografia musical e estudos de gênero.
No início do século XIX, devido às influências estéticas que os pintores adquiriam em suas viagens à Europa, as obras que retratavam mulheres reproduziam os mesmos padrões simbólicos. Nestas, o artista se aproximava mais da idealização do feminino, de maneira que o próprio ambiente no qual era composta a imagem nem sempre condizia com a realidade brasileira. As composições poderiam se construir tanto no cenário doméstico quanto ao ar livre, ressaltando sempre os atributos do romantismo e a sensualidade de figuras jovens de formas generosas. A alegoria propõe a materialização de ideias e sentimentos que se manifestam na forma da personificação, ou seja, da construção de personagens que aliados à determinados objetos, passam a equivaler a estas ideias. Como estudo de caso este artigo pretende apresentar uma análise iconográfica comparando os quadros Alegoria às Artes de Léon Pallière (1823-1887), recentemente restaurado, A glorificação das Artes de Domenico De Angelis (1852-1904), e Lei Áurea de Aurélio de Figueiredo (1856-1916), na tentativa de elucidar a presença da figura feminina neste tipo de representação alegórica.