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Coleção HJK: a organização dos manuscritos de Hans-Joachim Koellreutter
Lourdes Regina Porto

Última alteração: 2017-06-12

Resumo


Um conjunto de desafios se impõe na organização da Coleção HJK, como aqui é designado o conjunto de manuscritos produzidos pelo músico, maestro, professor e compositor alemão naturalizado brasileiro Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005) em suas seis décadas de atuação pedagógica no país, onde se destacou como pensador influente, militante da música de vanguarda e ativista cultural. Se a perspectiva de acesso à integralidade de seus textos responde a um interesse público há muito reclamado, em que vige certa imagem de polêmica estética e ruptura ideológica, para os documentalistas e profissionais d­­a informação o tratamento da Coleção HJK se revela objeto de pesquisa paradoxal, dada sua problemática ética a priori. Trata-se, agora, de estabelecer controle sobre o discurso e as ideias de um pensador libertário, de dominar seu raciocínio e impor regras à sua linguagem, de fixar seu vocabulário e dar precisão às suas palavras e construções linguísticas, de empregar técnicas documentárias para neutralizar a ambiguidade léxica e incerteza semântica e assim evitar possíveis desvios terminológicos na atribuição de sentidos. Trata-se, portanto, de ordenar o raciocínio do autor sob risco de negar o paradoxo como condição de sua defesa estética (Koellreutter defendia a "Estética do Impreciso e do Paradoxal"). Voltada para a recuperação da informação com ênfase na organização do conhecimento, propõe-se, nesta pesquisa, verter o pensamento de HJK em linguagem documentária, no objetivo de determinar os meios para uma modelagem descritiva que alcance representar, em arranjo posterior, tanto a especificidade dos itens documentais quanto o contexto multidisciplinar da coleção e seu autor, em cujo ideário universalizante a música se inscreve em permanente fluxo dialético com as outras artes, ciências e culturas. Com o amparo da Ciência da Informação, da Biblioteconomia e da Arquivologia, este estudo submete os registros primários da Coleção HJK à análise documentária e terminológica, define seus registros secundários de representação e síntese e desenvolve um plano classificatório na forma de mapa conceitual, no qual é possível identificar as áreas do conhecimento envolvidas, suas taxonomias e cruzamentos possíveis. A análise ontológica e epistemológica de seu corpo discursivo se dá por abordagem hermenêutica (o interpretar), heurística (explicar), organizacional (ordenar) e preditiva (formular hipóteses), que identifica semelhanças entre os equacionamentos cognitivos e multidimensionais providos por Sistemas de Organização do Conhecimento e os constructos transversais e multidirecionais propostos no conceito filosófico de Rizoma formulado pelos pensadores franceses Gilles Deleuze e Félix Guattar. Infere-se, assim, como condição paradoxal, a possibilidade de organização da Coleção HJK por conexões rizomáticas em rede fasciculada e de feição mais livre, desde que vez sustentada por um sistema documentário fixo, hierárquico e estruturante.

 


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