Última alteração: 2020-04-11
Resumo
Este trabalho é parte de uma investigação em andamento das relações entre as estruturas de composição e o processo de transmissão das formas cênicas - como os mitos, danças dramáticas, cerimônias, festivais, inscrições e literatura - na cultura do Antigo Egito. Esta pesquisa não busca a configuração de um modelo egípcio para o teatro, mas o resgate basilar do modo peculiar com que o drama era encenado. Com base nos estudos de Clark (2004), Eliade (1995/2010/2016), Geisen (2012), Cashford (2010) e Carvalho (1997/2017), além das narrações de Heródoto (2016), Plutarco (1999) e Drioton (1954), analisamos o Mito de Osíris e a realização de um Festival anual, no qual o drama do deus era encenado em praça pública, como uma possível manifestação do modo de vida e de arte do Egito Faraônico. As formas de encenação realizadas no Antigo Egito foram insuladas em decorrência da consolidação de um modelo grego que se tornou hegemônico na tradição teatral euro-ocidental. Nesse percurso, em que a questão de identidade social e cultural, delimitada a partir de Burke (2005) e a Nova História Cultural (NHC), e a prospecção da intrínseca relação entre arte e sagrado, refletidas por Brook (1970), estão sendo analisadas, apoiadas nas contribuições de Baty e Chavance (1932), Carlson (1997) e Dupont (2007), nos deparamos com descrições cênicas e sonoras da apresentação da história de Osíris, em documentos como o Ramasseum Dramatic Papyrus e em inúmeras inscrições em paredes e colunas de templos, pirâmides e tumbas no Egito. As inscrições, em sua maioria, desenhos e baixos-relevos, mostram personagens em alguma forma de ação ou performance, algumas com instrumentos musicais nas mãos, que nos levaram a procurar metodologias de análise presentes no estudo iconográfico musical e que trazemos nesse trabalho.