Última alteração: 2020-04-11
Resumo
Quando observamos a arte e o artesanato de antigas culturas, percebemos, para além das evidentes diferenças estéticas, similaridades arquetípicas e profundas, inerentes à espécie humana e aos seus hábitos. Dentre tais fatores comuns encontramos com frequência a presença de elementos que denominamos de musicais. Explícitos na presença de arcaicos instrumentos e na iconografia, muitas vezes ligada a sentidos tanto míticos quanto místicos. A arte da manipulação dos sons que ‘aticamente’ denominamos de “música”, até onde podemos testemunhar nos achados arqueológicos, acompanha a nossa espécie desde os seus primórdios como um fator inerente e indissociável nas organizações sociais – embora com finalidades mais ou menos diversas conforme as culturas, o tempo e o lugar. Com denominações distintas, muitos anteriores à escrita e às concepções gregas que herdamos sobre “música”. Nesta apresentação teremos um passeio pelo panorama arqueológico ligado a esta presença tão antiga da “música” em diversas culturas antigas, muitas vezes com representações envoltas em enigmas – porém abertas a conjecturas; também muitas vezes surpreendentes quanto às concepções estéticas das figuras. Estes testemunhos exumados dos confins do tempo pelas conquistas arqueológicas apontam para a intrínseca atuação do elemento sonoro à nossa espécie, como um dado funcional que cobre diversos propósitos e significados, desde a interpretação lúdica do mundo e dos seus fenômenos – que chamamos de mitologia, até a atuação de ordem prática do cotidiano em suas variadas instâncias. Música como culto, música como fruição estética, música como exaltação social, música como suporte do discurso poético ou místico; como ferramenta de trabalho ou ação bélica; como exaltação da vida ou como moldura sonora dos eventos fúnebres; música como premência do cotidiano – conforme ocorre nas cantigas de ninar e música para prazer convivial. Música como um fator de influência no caráter e conduta do ser humano – na concepção grega da Teoria ou Doutrina do Ethos. Como elemento de emulação e ostentação, ou como objeto da censura de poderes estabelecidos. Enfim, música como uma das principais características e atividades humanas, ligada aos fatores de sociedade e tecnologia que originam toda arte, conforme seu tempo e lugar. Coisas que vêm atravessando os tempos e perdurarão enquanto perdurarmos como espécie.