O videoclipe é um formato audiovisual de divulgação musical que data do princípio da cultura pop, desde a década de 1960. Tal manifestação criativa vem ganhando espaço, sempre com a capacidade de se apresentar como um modo de expressão êmico (CAROSO, 2010), ligado às características musicais, estéticas e sociais de grupos musicais, artistas, produtores e a relação desses com seus públicos. A banda Vomer, objeto deste trabalho, foi um grupo estudado entre os anos de 2009 e 2011 pelo autor desta proposta. Trata-se de uma banda de Thrash Metal, subgênero do metal que surgiu na década de 1980, derivada do Speed Metal, nos Estados Unidos. Possuindo instrumentação comum às bandas de heavy metal em geral, esse meio se destaca pelo uso do pedal duplo (ou dois bumbos executados de maneira intermitente) na bateria, riffs e solos rápidos de guitarra, vocais rosnados, ou guturais, além de temáticas niilistas, descrições de guerras, desastres, desilusões e sofrimento em suas letras. A Vomer, criada na cidade de Montes Claros-MG em 1995, com atuação até meados do ano de 2013, reproduz, em suas músicas tais elementos, uma vez que se inspira nos movimentos translocais de materiais musicais e midiáticos que permitem o surgimento de bandas como essa no interior de Minas Gerais. No ano de 2007, o grupo lançou a sua primeira demo: Lord of Hell. Acompanhando as suas necessidades de divulgação e expressão a partir de elementos audiovisuais, o grupo lançou, no mesmo ano do lançamento do disco, no Youtube, o clipe da música que dá nome à demo. O videoclipe Lord of Hell foi elaborado através de uma técnica de colagem e sequenciamento de imagens e fotos históricas, além de filmes que retratam governos autoritários, cenas de guerras, situações apocalípticas e desespero humano nessas situações. Ao mesmo tempo, intercala tais imagens com fragmentos de vídeos e fotos da Vomer em situação de performance. O presente trabalho tem como objetivo estabelecer, a parir de um olhar analítico para o videoclipe em questão, uma correlação entre os recortes de imagens e vídeos sequenciados para a elaboração do videoclipe às necessidades estéticas e performáticas da Vomer. Pensado como recorte de uma pesquisa realizada entre os anos de 2009 e 2011 (CARVALHO, 2011), serão apresentados elementos no videoclipe que evidenciam a associação entre as imagens, bem como ao crescimento de tensão musical, liberação de energia em catarse, ou mesmo representação de desolação a partir de mudanças de andamento, aumento e diminuição de densidade sonora ao longo da música, ou mesmo de diferenças entre partes cantadas, riffs e solos. Entende-se que o videoclipe traz representações iconográficas, ou seja, materializa, na concepção do grupo, ideias musicais relacionadas às suas práticas, estética, visão de mundo, ou mesmo posicionamento frente a caminhos do pensamento do thrash metal como uma forma de discurso. Assim, tem-se no videoclipe um caminho complementar de expressão e prática musical da Vomer em seu contexto, ampliando suas formas de alcance, bem como de comunicação de ideias por meio da música.