Portal de Eventos Científicos em Música, 5º Congresso Brasileiro de Iconografia Musical

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Distribuição da Orquestra no fosso do teatro Valdemar de Oliveira a partir de fontes iconográficas
Sérgio Deslandes

Última alteração: 2020-04-11

Resumo


Em pesquisa PIBIC/CAPES em curso sobre a obra de Valdemar de Oliveira, pianista, compositor, regente, escritor, teatrólogo e médico, atuante em Recife/PE no século passado, nos deparamos com uma questão arquitetônica que começa a ser respondida graças ao surgimento de três fotos encontradas nos arquivos da família.

Devido à sua importância na vida artística do Recife no século XX, a cidade possui um teatro no centro da cidade chamado Teatro Valdemar de Oliveira que é administrado por seus herdeiros e pertence ao grupo Teatro de Amadores de Pernambuco - TAP, construído em terreno doado pela municipalidade no inicio dos anos 60, construído com recursos do próprio grupo, e reinaugurado em 1982 após um incêndio ocorrido em 1980.
O teatro que possui um fosso para orquestra que se encontrava desativado desde os anos 90 (há mais de 20 anos) e agora, com o ressurgimento da atividade operística em Recife, a partir de 2015, começa a ser reformado.
Surpreendentemente, ao serem retiradas as quarteladas[1], verificou-se que o espaço destinado ao contrabaixo se encontrava à esquerda do maestro, o que se configura totalmente estranho ao que se espera de uma distribuição instrumental atual, onde o contrabaixo fica à direita do maestro. O fosso tem em seu interior, delimitações de concreto, e verificou-se que à direita, no espaço onde deveria ficar o instrumento, seria impossível, pelas medidas disponíveis.

Enquanto se esperava a visita de um engenheiro e um arquiteto para a verificação da possibilidade de uma reforma estrutural no prédio, foram encontradas nos arquivos da família, três fotos de uma apresentação da primeira opereta de Valdemar de Oliveira - Berenice, 1925 - realizada em outro teatro de Recife, o "Theatro do Parque", onde é perfeitamente visível a disposição das cordas e sopros, sendo os primeiros à esquerda e os segundos à direita do maestro.

Após pesquisa bibliográfica em manuais de orquestração do século XIX, e manuais de regência modernos, encontramos a informação de que desde as óperas de Wagner, esta distribuição espacial  dos instrumentos, cordas à esquerda e sopros à direita, é adotada porque isso ajuda no equilíbrio sonoro entre o som da orquestra e o som que vem do palco.
Um hábito orquestral que foi abandonado  no séc. XX, e que quase causou uma reforma inapropriada em um teatro projetado para montagens cênicas sob os moldes do séc. XIX. 

[1] quartelada - nome dado ao conjunto de pranchas que formam o assoalho do PALCO. Cada prancha pode ser removida manual ou mecanicamente, podendo ser fixada acima ou abaixo do nível do palco. A medida internacional adotada para cada prancha é de 2 por 1 metro, sendo que a face é sempre colocada paralela à BOCA DE CENA. Fonte: Dicionário do Teatro - Luiz Paulo Vasconcelos  disponível em: http://www.palcobh.com.br/curiosidades/quartelada.html acesso em: 09/05/2019

 


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