Portal de Eventos Científicos em Música, 6º Congresso Brasileiro de Iconografia Musical

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Luigi Bartezago, Carlos Gomes, Paschoal Musella e Morena
Marcos Virmond, Lenita Waldige Mendes Nogueira

Última alteração: 2021-04-29

Resumo


A década de 1880 foi muito produtiva para Carlos Gomes, mas, paradoxalmente, significa o início de um progressivo declínio que termina com sua morte em Belém do Pará em 1896. Nesse período, afora a publicação de álbuns com peças vocais, duas obras se salientam: Lo Schiavo (1889), a mais divulgada e reconhecida, por alguns, como sua obra máxima, e Morena (1877), ópera inconclusa e pouco estudada na obra do compositor. Se Lo Schiavo teve longa e conflituosa gestação, começando em dezembro de 1880 com as discussões sobre o esboço de Alfredo D'Escragnolle Taunay e a protelada estreia em setembro de 1889, Morena é uma daquelas obras de encomenda que confirmam a substancial capacidade de trabalho e inventividade de Gomes, quando instado concretamente a entregar uma nova ópera, aqui por iniciativa do empresário italiano Mario Paschoal Musella. Situação semelhante ocorre em Condor (1891) e Colombo (1892), quando, em curto tempo, Gomes compõe e encena suas duas últimas obras. Certamente, a diferença substancial é que, ao contrário dessas últimas mencionadas, Morena ficou inconclusa. No sentido de recuperar a música dessa ópera, uma proposta de transcrição musicológica do manuscrito autógrafo de Morena se encontra em fase final de publicação, o que permitirá a divulgação dessa importante obra e sua devida análise pela comunidade musicológica. De fato, entre as tantas obras que Gomes iniciou e não concluiu, ou considerando-se os vários libretos que adquiriu e sequer escreveu música, Morena se destaca como a única cujo material deixado é suficiente para compreender-se a proposta composicional de Gomes e atestar que sua capacidade criativa permanecia intacta. Subsidiariamente à transcrição, o presente estudo objetiva apresentar, no entorno da criação de Morena, a análise da iconografia cenográfica preparada por Luigi Bartezago para esta ópera e discuti-la em face ao libreto oferecido a Gomes no contexto das alterações identificadas ante a estrutura do libreto e a música proposta pelo compositor no manuscrito autógrafo. Tal libreto desenvolve-se em quatro atos, mas a música de Gomes resume-se, com falhas de variadas ordens, a três atos. Luigi Bartezago era importante pintor milanês que, frequentemente, trabalhava com desenho cenográfico e de vestimentas para óperas, tendo inclusive desenhado os costumes de Lo Schiavo para a Casa Ricordi. Coerente com o libreto, Bartezago propõe material cenográfico para os quatro atos. Conclui-se que Morena, mesmo inconclusa, era projeto concreto e contratado, atestado pela iconografia cenográfica de Bartezago, que foi desfeita por circunstâncias pessoais do compositor, sob as quais a difícil gestação de Lo Schiavo tem participação.

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