Última alteração: 2023-11-02
Resumo
Num mundo em constante movimento, regido por mudanças nas mais diversas áreas, na iconografia musical é notório que as inter-relações de diferentes campos do conhecimento, especialmente humanísticos e artísticos, promovem o alargamento das discussões e abordagens interdisciplinares. Considerando que as fronteiras hoje são cada vez mais culturais, as mudanças das epistemes, neste caso, culturais, são parte fundamental para a compreensão das tensões e transformações do pensamento, do agir e interagir de indivíduos e grupos sociais. Isso pode ser um desafio analítico, especialmente considerando sistemas dinâmicos como é a cultura, segundo Yuri Lotman. Atento aos desafios que estas mudanças das epistemes podem trazer, o semioticista Eero Tarasti cunhou o termo “semiocrise” como forma de se referir à tensão que surge quando um sistema semiótico é confrontado por outro ou por mudanças sociais, culturais e tecnológicas. A semiocrise se dá devido às mudanças epistêmicas na cultura e, em geral, significa que sinais visíveis e observáveis na vida social não correspondem mais às suas estruturas imanentes. Eles perderam suas conexões e correspondências com seus verdadeiros significados e significações. Em outras palavras, houve uma perda de isotopia, o que significa que a relação entre os significados e seus portadores materiais foi alterada de alguma forma. Isso pode ser um desafio, uma vez que a correspondência/relação entre signos e significados é parte fundamental para a compreensão e interpretação de uma cultura. Porém, essas mudanças podem proporcionar a oportunidade para explorar “novas” possibilidades de significado e expressão dentro de um sistema simbólico, o que pode ampliar, de alguma forma, certas fronteiras do conhecimento.
Neste sentido, a análise iconográfica musical tem se mostrado importante em destacar e compreender as relações entre música e suas representações visuais, bem como seus significados e significantes socio-político-culturais. Por isso, a semiótica é uma ferramenta fundamental para este objetivo. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo explorar caminhos para uma semiótica da iconografia musical, considerando as constantes mudanças culturais e tecnológicas que podem gerar tensões e mudanças epistêmicas, tendo como base a semiótica tarastiana e a semiótica da cultura, a fim de compreender o papel da cultura e da subjetividade, bem como sua (des)construção na relação entre música e imagem. A análise iconográfica musical é uma ferramenta fundamental para destacar e compreender as relações entre música e suas representações visuais, bem como seus significados e significantes socio-político-culturais. Este trabalho busca, assim, dar um primeiro passo na construção de uma semiótica da iconografia musical que leve em conta as epistemes culturais.
Palavras-chave
Referências
HEIDEGGER, M. A origem da obra de arte. Trad. Maria da Conceição Costa. Lisboa: Edições 70, 1977.
______________. Phenomenology of spirit. Trad. A. V. Miller. Oxford: Oxford University Press, 1977.
LOTMAN, I. M. La semiosfera I: semiótica de la culturay del texto. Tradução de Desiderio Navarro. Valência: Frónesis Cátedra, 1996.
TARASTI, Eero. Seen und Schein: Explorations in existential semiotics. New York: De Gruyter Mouton, 2015.