Portal de Eventos Científicos em Música, 7º CONGRESSO BRASILEIRO DE ICONOGRAFIA MUSICAL

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Reflexões sobre o negro na iconografia musical de Rafael Bordalo Pinheiro (1875-1878)
Gilberto Vieira Garcia

Última alteração: 2023-11-02

Resumo


Não é pouco recorrente se compreender a música como uma arte abstrata e efêmera que, nessas condições, deveria existir em uma dimensão intangível e sublime, pairando acima das realidades mundanas e atravessadas por transformações e embates históricos e socioculturais. Entretanto, levando-se em conta a multiplicidade de formas e situações que a música vem sendo realizada ao longo da história e, especialmente, os seus diferentes potenciais enquanto meio de socialização de valores, torna-se imprescindível se refletir sobre o seu papel para mobilizar, reproduzir ou subverter representações e percepções. A partir de uma perspectiva sociológica, os variados modos e contextos em que a música se apresenta sinalizam também diferentes maneiras pelas quais os indivíduos e grupos, entre criadores, intérpretes, promotores e audiências, se reportam à realidade na qual estão inseridos, dialogando e/ou se confrontando com as contradições do seu tempo.

Inspirada nessa perspectiva, esta comunicação terá como propósito compartilhar algumas reflexões que resultam de uma pesquisa sobre a iconografia musical presente nas caricaturas e ilustrações produzidas pelo português Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905)[1], durante o período em trabalhou no Rio de Janeiro, entre os anos de 1875 e 1878. Erwin Panofsky e Tilman Seebass são as referências teórico-metodológicas básicas das análises. A princípio, o escopo geral de objetivos da pesquisa compreendia se debruçar sobre esse conjunto iconográfico para identificar as temáticas e os conteúdos presentes; mapear as críticas do autor sobre o cenário musical brasileiro da segunda metade do século XIX; examinar os modos pelos quais Bordalo utiliza a iconografia musical para tratar de assuntos que não envolvem diretamente a música; situar esse conjunto iconográfico em relação ao pensamento do autor e do seu papel como instrumentos de crítica e de reflexão sobre o contexto português e brasileiro da segunda metade do século XIX. Contudo, a partir do avanço da catalogação das imagens e da sistematização dos dados foi possível perceber a relevância de uma questão que não havia sido inicialmente prevista no projeto: analisar a representação do negro na iconografia musical contida nesse conjunto de caricaturas e ilustrações realizadas por Bordalo no Brasil. Essa questão, por sua vez, passa a ter uma importância significativa para o avanço desta pesquisa ao se considerar a complexidade do contexto da década de 1870, marcada pelo crescimento dos movimentos abolicionistas, pela acentuação do protagonismo do negro no desenvolvimento da música urbana brasileira e, mesmo, pelas próprias discussões sobre o lugar do negro na cultura nacional. Assim o propósito dessa comunicação será, portanto, analisar algumas imagens e fazer uma discussão inicial sobre essa questão.


[1] Rafael Augusto Bordalo Pinheiro (1846-1905) é considerado o maior caricaturista português do século XIX.



Palavras-chave


Iconografia Musical; Bordalo Pinheiro; Brasil Império; Música no Brasil; Questões Raciais;

Referências


PANOFSKY, E. Iconografia e Iconologia: Uma introdução ao estudo da arte da Renascença. In: Significado nas Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 1986.

SEEBASS, Tilman. Iconography, In: New Grove Dictionary of Music and Musicians. London: Macmillan, 2000

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