A milonga, enquanto gênero musical, configura-se por si só como representante de um lugar geográfico, o qual definimos como América Platina. Dentro da concepção estética de Vitor Ramil, a imagética pertencente ao contexto cultural platino age como um filtro criativo por onde o compositor passa suas composições, especialmente as milongas, gênero o qual define como representante dos gêneros platinos. De forma a especificar esse filtro criativo, Ramil define o frio como elemento de comparação do Rio Grande do Sul com o resto do Brasil. Em um país marcado pela tropicalidade, temperaturas médias anuais acima dos 20 graus, cores quentes e paisagens marcadas pela sinuosidade de curvas e praias, o extremo sul do país convive com o contrário de quase todas essas formas. Mesmo com o calor do verão, a geografia é marcada por planícies e pampas, os quais propiciam uma estética definida pelo frio e por formas rectilíneas e rígidas, contrastando quase na sua totalidade com a imagem atrelada ao Brasil como um todo, através de uma dualidade frio x quente. Dentro dessa premissa tipicamente brasileira, o movimento tropicalista reproduz um contexto estético mais amplo que a própria música, abarcando representações imagéticas em sua concepção e em complemento à sua produção musical, enquanto do outro lado do espectro, Ramil utiliza atributos retirados da imagem fria do pampa gaúcho de forma a definir sua criação musical. Em um contexto iconográfico, o contraste entre formas e cores a serem utilizadas como base de uma criação artística é evidenciado nas imagens do documentário A Linha fria do Horizonte, de Luciano Coelho, no qual a milonga e seus processos de criação de uma imagem fria contrasta com imagens do documentário Tropicália, de Marcelo Machado, na sua representação por meio de uma iconografia com imagens quentes. Nessa dualidade, objetiva-se evidenciar, através do contraste, o caráter da milonga como representação de um conceito geográfico e imagético em uma parte específica do Brasil.