Portal de Eventos Científicos em Música, 7º CONGRESSO BRASILEIRO DE ICONOGRAFIA MUSICAL

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Antonio Carlos Gomes e a redescoberta da América em 1892
Marcos Virmond, Lenita Waldige Mendes Nogueira, Arysselmo Lima Vieira

Última alteração: 2023-11-02

Resumo


Após o sucesso relativo de Condor no Scalla de Milão, em 1891, e sua constante necessidade de produzir para viver, Carlos Gomes encontra nas comemorações do Quadri Centenário da descoberta da América uma efeméride que lhe poderia assegurar espaço para uma obra alusiva ao evento. Em relativo pouco tempo, o compositor escreve mais um de seus luminares trabalhos, ao qual intitula Colombo. Referido pelo próprio autor como um “poema sinfônico-vocal”, essa obra, em realidade, apresenta integral estrutura de uma ópera e foi estreada no Rio de Janeiro em 1892. Mesmo revelando um compositor em sua maturidade técnica, estilística e inventiva, essa ópera não obteve maior sucesso e tem permanecido na obscuridade a qual o próprio Gomes, indevidamente, também imergiu. De fato, a recepção no Rio de Janeiro foi apenas de estima, tendo o público não aceito a formatação da obra como se um oratório fosse. Entre as obras de Gomes, esta é a única cuja partitura foi impressa com iconografia ao longo das páginas de abertura dos atos, fato pouco comum, mas não inédito, na editoria de óperas na Itália do século XIX. Ademais, a capa da partitura princeps apresenta vistosa iconografia relativa a Colombo e seu feito no período das grandes navegações da península ibérica. Nesse sentido, a obra de Gomes tem relação direta com os festejos do Quadri Centenário colombiano de Genova, em 1892 e com a obra encomendada a Alberto Franchetti pela prefeitura desta cidade para esse evento, a ópera Cristoforo Colombo. Essa relação ultrapassa as questões históricas, políticas e comerciais do meio editorial da ópera italiana do período e se encontra na similitude da estampa utilizada para ilustrar a portada da edição da obra de Gomes com a que adorna a capa do libreto impresso pela Casa Ricordi para a ópera de Franchetti. De fato, a historiografia gomesiana atribuiu dificuldades do compositor em obter essa encomenda por interferência direta de G. Verdi junto à comuna de Genova, o que não corresponde à realidade. Ademais, documentos acessórios produzidos para o evento de Genova também foram ilustrados de diversas formas para relatar o encontro da civilização europeia com aquela do novo mundo, assim como seus comemorativos icônicos das duas culturas. Por fim, ao analisarmos com os olhos do século XXI a visão oitocentista das relações transatlânticas, devemos usar de muita cautela, pois os contextos, as vivências e as realidades político-sociais desses dois períodos não são intercambiáveis, mesmo tomando-se a mais isenta observação metodológica pretensamente da atualidade. Mesmo assim, revisitar historicamente os eventos à luz de achados congruentes adquiridos por uma historiografia cuidadosa, apresenta vantagens importantes para o entendimento do passado à luz do presente, com vistas a contribuir com a sedimentação dos conhecimentos para uso das gerações futuras. Nesse mister, a iconografia, e sua análise, tem poderoso papel.


Palavras-chave


Carlos Gomes; Ópera; Cristóvão Colombo

Referências


Gomes, Antonio Carlos. Colombo poema vocale-sinfonico in quatto parti. Milão: Artur Demarchi, 1892, 1 paritura.

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Virmond, Marcos. Nogueira, Lenita W.M, Tolon Marin, Rosa Maria. Corradi, Cláudio. Carlos Gomes e a Exposição Colombiana Universal. XVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação (ANPPOM), Salvador – 2008. Disponível em: https://anppom.org.br/anais/anaiscongresso_anppom_2008/comunicas/COM374%20-%20Virmond%20et%20al.pdf

 

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