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Saudade e Identidade Cultural Brasileira: Um Diálogo Semiótico entre Pintura e Música
Cleisson Melo

Última alteração: 2023-10-24

Resumo


A cultura brasileira é rica e se apresenta de forma diversa, resultado de uma mistura de influências. No mesmo sentido, a saudade é um sentimento que remete à nostalgia, à lembrança de algo ou alguém que já se foi, e está muito presente na cultura brasileira. Profundamente enraizado na alma do povo brasileiro, tem sido tema recorrente nas mais diversas produções artísticas do país, especialmente na música. Esse sentimento, muitas vezes visto como uma marca imanente da identidade cultural brasileira, encontra sua expressão não apenas na música, mas também na pintura, formando um rico panorama de representações visuais e sonoras ao longo dos séculos. A saudade, assim, se mostra, de alguma forma, ligada à construção de uma identidade cultural brasileira.

A partir da perspectiva semiótica, é possível analisar como a saudade é expressa na cultura brasileira, por meio de signos como a música, a pintura, a literatura, entre outros. A música popular brasileira, por exemplo, é rica em canções que falam de amores perdidos, lugares distantes, ou mesmo de uma época que já passou, expressando a saudade de forma poética, melancólica e diversa. Da mesma forma, a pintura também expressa a saudade por meio de imagens que remetem e revelam elementos simbólicos que contribuem significativamente para a construção e o entendimento da saudade como elemento presente na cultura brasileira. Assim, a semiótica tem sido uma profícua ferramenta nos mais diversos tipos de análise, mas especialmente pela sua capacidade de desvelar múltiplas camadas de significados, buscando compreender como os elementos visuais e musicais interagem, como os signos são construídos e como as representações culturais são transmitidas e possivelmente interpretadas.

Podemos primeiramente considerar a análise da iconografia da saudade em pinturas brasileiras. Se tomarmos como exemplo a icônica obra “Saudade” (1899), do pintor brasileiro Almeida Junior (1850-1899), esta está repleta de elementos simbólicos, apresentando uma paleta de cores carregadas de significados, uma composição que cria uma atmosfera de melancolia, tristeza, saudade em camadas, e uma personagem que emana esse sentimento/emoção em cada traço.

Da mesma forma, a saudade na música brasileira é igualmente relevante. A obra “Bachianas Brasileiras N. 05”, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), por exemplo, nos oferece um vasto e fértil terreno investigativo. Elementos melódicos, harmônicos e líricos, mas também representações de elementos culturais, trazem, de certa forma, um ar saudosista à obra. Também temos um arcabouço muito rico em representação em músicas como “Asa Branca” (1947) de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, ou mesmo “Chega de Saudade” (1956) de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

A integração da análise pictórica e musical é um passo importante nesta pesquisa. Há uma relação direta ou indireta? Como as representações de saudade na pintura se relacionam com as representações na música? Como essas duas formas de arte dialogam e se complementam na expressão da saudade? A semiótica, neste sentido, nos permite traçar possíveis conexões entre elementos visuais e musicais, revelando como ambos contribuem para a construção do sentimento de saudade, objeto principal desse trabalho. Para isso, uma contextualização histórica e social também desempenha um papel fundamental nesta investigação. É essencial considerar o contexto em que essas obras foram criadas, examinando como eventos históricos e influências socioculturais podem ter moldado as representações da saudade ao longo do tempo.

Em última instância, esta pesquisa busca refletir sobre a evolução da saudade na cultura brasileira. Como esse sentimento resistiu ao teste do tempo, mantendo sua relevância na alma do povo brasileiro? Como as representações de saudade evoluíram ao longo dos séculos, mantendo sua identidade cultural? A semiótica nos proporciona as ferramentas para investigar essas questões complexas.

Em suma, esta pesquisa se destaca pela sua abordagem interdisciplinar e pela aplicação da semiótica como instrumento de análise. Ao desvelar as representações da saudade na arte iconográfica e na música brasileira, esta investigação lança luz sobre a construção da identidade cultural do Brasil e suas transformações ao longo do tempo. Além disso, contribui para o enriquecimento dos campos da semiótica, da história da arte e da musicologia, oferecendo novas perspectivas sobre a relação entre as formas de expressão visual e sonora na cultura brasileira.

 

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução a arquetipologia geral. 3. ed. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2002.

LEVÍ-STRAUSS, Claude. Mito e Significado. Tradução Antônio Marques Bessa. Lisboa: Edições 70, 1981.

AUTOR. Tese 2016.

TARASTI, Eero. Seen und Schein: Explorations in existential semiotics. New York: De Gruyter Mouton, 2015.

 


Palavras-chave


Musicologia; estudos culturais; semiótica