Portal de Eventos Científicos em Música, 4º Congresso da ABMUS

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"É nesta Lisboa, figura de proa da nossa canção": visões das Fado Bicha através das televisões.
Caio Felipe Mourão

Última alteração: 2023-10-24

Resumo


Baseada na afirmação de Jody Berland, de que é impossível obter notoriedade com uma canção sem um videoclipe (Berland 1993, 26), esta comunicação tem como objetivo principal refletir sobre as imagens trazidas em quatro clipes do grupo português de Fado LGBT+ Fado Bicha (FB): O Namorico do André, Crónica do Maxo Discreto, Estourada e Lila Fadista – sendo que esta última letra serviu de mote para o título em epígrafe. Comparo estas paisagens com as de clipes e filmes de fado tradicional. As questões que me motivaram foram: Quais as principais referências estilísticas do grupo? Estando o fado vinculado a bairros tradicionais de Lisboa e ao mar, a que locais estaria associado o Fado LGBT+? Quais as paisagens ilustradas nos videoclipes e descritas nos textos destas canções? Inspirado na metodologia proposta por Carol Vernalis (2004), decupo todos os vídeos, plano a plano, e todas as canções, compasso a compasso, para analisar as imagens e os sons de maneira detalhada. Reflito sobre eles, utilizando como fonte de dados as várias entrevistas pessoais com as FB, os realizadores e os produtores do grupo; bem como uma vasta bibliografia e um amplo material disponível na internet relacionados a gêneros – musicais e identitários –, sexualidades, artivismos e cultura portuguesa. Concluo, apresentando paisagens frequentes dos videoclipes das FB, como a zona do Príncipe Real lisboeta, especialmente o Finalmente Club, o cruising, alguns locais públicos desertos, quartos privativos e consultórios médicos. O sexo, algumas vezes explícito, e a paródia (Butler 2018) são os elos destas imagens, onde há sempre a intenção de chocar o público através do exagero. Relativamente às influências estilísticas das FB, tanto visuais quanto musicais, observei a presença do camp (Sontag 2018), da pop art (Shanes 2009) e da pornografia (Hunt 1999). Esta proposta se enquadra no tópico 8 do 4° Congresso da ABMUS, qual seja, a musicologia no espaço das discussões identitárias: étnico-raciais, conflitos sociais e de gênero.

 

Referências Bibliográficas

Berland, Jody. 1993. “Sound, Image and Social Space: Music Video and Media Reconstruction. In Simon Frith, Andrew Goodwin, and Lawrence Grossberg, eds., Sound and Vision: The Music Video Reader (New York:Routledge, 1993), 20-36.

Butler, Judith. 2018 [1990]. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade [recurso eletrônico] : Judith Butler; tradução Renato Aguiar - 1 ed. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Hunt, Lynn. 1999 [1993]. A invenção da pornografia. Obsenidade e as origens da modernidade, 1500-1800. Lynn Hunt/ Tradução: Carlos Szlak. Hedra, São Paulo.

Shanes, Eric. 2009. Pop Art. Parkstone Press International, New York.

Sontag, Susan. 2018 [1964]. Notes On Camp [recurso eletrônico] : Peguin Classics.

Vernalis, Carol. 2004. Experiencing Music Videos. Aesthetics and Cultural Context. Columbia University Press. N.Y



Palavras-chave


Videoclipes; Fado LGBT+; Paródia; Pornografia; Camp.