Nossa proposta constitui um recorte da pesquisa de mestrado intitulada "Meu oficio é Arquitetura: a atuação do arquiteto, decorador e entalhador Miguel Dutra na província de São Paulo durante os oitocentos". No decorrer de nossa investigação pudemos averiguar que Miguel Dutra (1812 - Itu -SP, 1875 - Piracicaba-SP) constitui um inestimável ponto de reflexão acerca dos referenciais artísticos de nossa cultura material passando por diversas áreas da produção artística sacra entre as quais se destacam pintura, arquitetura, encarnação, entalhe até composições musicais como ladainhas e ofertórios. A partir do caráter poliforme e itinerante de sua produção, foi possível identificar um rico diálogo com os estudos lusos, que recentemente vêm se incorporando aos debates sobre a atuação dos armadores de gala em Portugal durante o século XVIII, e a importância destes agentes frente as festividades ordinárias e extraordinárias na capital do reino. Na presente proposta, pretendemos relacionar sob a ótica da história da arte e da cultura, a iconografia musical registrada sobre o suporte da aquarela, os projetos de arquitetura efêmera e instrumentos musicais fabricados por Dutra, enquanto qualificadores autênticos da formação ampla e erudita do armador de gala no império brasileiro; as relações entre o ofício de armador de gala entre Portugal e o Brasil, e as respectivas particularidades dessa profissão em território nacional a partir de Miguel Dutra, que é arrolado na seção de artes e ofícios do Almanack da Província de São Paulo para o ano de 1873, enquanto, "armador de gala para as festividades".