A pesquisa de doutorado intitulada "Formar-se e ser formador: rotas formativas musicais de religiosos no contexto católico brasileiro na perspectiva da sociologia da educação musical e da vida cotidiana" (LORENZETTI, 2019) teve como objetivo compreender as rotas formativas de quatro religiosos católicos, colaborando para o entendimento de processos de formação musical que ocorrem na Igreja Católica no Brasil após o Concílio Vaticano II (1962-1965). O estudo descreveu o contexto no qual ocorre a música na Igreja Católica; apreendeu como os conhecimentos litúrgico-musicais dos religiosos foram sendo construídos durante suas rotas formativas; analisou as maneiras pelas quais o conhecimento dos religiosos é transmitido a outras pessoas; e discutiu as concepções acerca da música neste contexto e suas implicações na formação musical. Adotando como metodologia o estudo de caso coletivo (STAKE, 1999), participaram da pesquisa quatro religiosos com importante papel na formação musical na Igreja Católica brasileira, especialmente no contexto pós-Conciliar. Eles foram alguns dos responsáveis pela organização da música litúrgica na Igreja Católica após a década de 1960. São eles: Padre José Henrique Weber, Irmã Míria Therezinha Kolling, Padre Ney Brasil Pereira e Irmã Custódia Maria Cardoso.

Para a referida pesquisa foram cedidos, pelos participantes, vários registros iconográficos. Dentre eles encontram-se fotografias individuais e em grupos, composições musicais, documentos pessoais, matérias de jornais e audiovisuais, entre outros.  Para lidar com essa documentação iconográfica foram importantes os aportes teóricos de Machado Pais e Simmel para o tratamento das imagens como uma fonte relevante de pesquisa. Este trabalho visa explicitar como o uso de imagens revelou aspectos da formação musical no contexto religioso católico no Brasil. Ao tomar o uso de imagens na tese apoiando-se no pensamento de Machado Pais (2003), pôde-se recorrer a outros autores que embasam este uso e podem fornecer argumentos para esta relação entre o "todo" e o "detalhe". Simmel, por exemplo, "busca descobrir em cada minúsculo detalhe seu sentido global, um horizonte que remete à unidade e à interrelação entre/das coisas" (TEDESCO, 2007, p. 58). A essência da sociologia simmeliana, é constituída pelas "observações fugazes da realidade" que a constituem (MACHADO PAIS, 2003, p. 26), e que fora registrada em "instantâneos" sociológicos na revista Jugend, publicada na Alemanha nos anos 20 na qual Simmel apresentava uma série de pequenos textos. A expressão Momentbilder, utilizada por Simmel e traduzida como Snapshot significa "imagem momentânea de uma cena ou fragmento da realidade" (MACHADO PAIS, 2003, p. 26).  Nesse contexto, o fotografar significa um "processo de capturar o fugaz" quando se tenciona "olhar pelo social - nos seus aspectos mais particulares, acidentais e superficiais" (MACHADO PAIS, 2003, p. 26-27). Assim como Simmel optava por um retrato da realidade abstraindo-se da totalidade, ao utilizar as imagens na tese optou-se por focar nos fragmentos e a partir deles construir aquilo que se compreendia como relevante para o tema da pesquisa. A intenção era ultrapassar margens, sobrepor tempos e destacar detalhes. As imagens utilizadas na tese são fragmentos que compõem o olhar teórico-metodológico do cotidiano que permeia todo trabalho.

REFERÊNCIAS

LORENZETTI, Michelle Arype Girardi. Formar-se e ser formador: rotas formativas musicais de religiosos no contexto católico brasileiro na perspectiva da sociologia da educação musical e da vida cotidiana. Tese (Doutorado em Música). Programa de Pós-Graduação em Música - Instituto de Artes. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2019.

PAIS, José Machado. Vida cotidiana: enigmas e revelações. São Paulo: Cortez, 2003.

STAKE, Robert E. Investigación con estudio de casos. Madrid: Morata, 1999

TEDESCO, João Carlos. Georg Simmel e as ambigüidades da modernidade. Ciências Sociais Unisinos. 43 (1). Jan/abr, 2007, p. 57- 67.