Portal de Eventos Científicos em Música, 5º Congresso Brasileiro de Iconografia Musical

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Emygdius scripsit: Iconografia em manuscritos musicais do Museu Carlos Gomes
Lenita Waldige Mendes Nogueira

Última alteração: 2020-04-11

Resumo


Emygdius scripsit é a maneira pela qual José Emygdio Ramos Júnior (Campinas, 1833-1900) se identificava nas partituras que compunha ou copiava. Este material se destacou durante o processo de catalogação da coleção de manuscritos musicais do Museu Carlos Gomes em Campinas, SP, quando foi possível verificar que, em várias de suas cópias, Emygdio costumava desenhar caricaturas e, ao realçar detalhes do trabalho que estava realizando ou das pessoas e eventos à sua volta, configurava uma iconografia representativa de uma rede de interações que extrapola a questão sonora da música, oferecendo subsídios para a compreensão da atividade musical de sua época. Emygdio nasceu em Campinas, então vila de São Carlos, em 1833 e trabalhou como músico durante toda a sua vida. Foi bastante próximo da família Gomes, em especial de Carlos Gomes. Na infância foram companheiros de travessuras, estudaram juntos na escola, inclusive na de música, cujo professor era Manuel José Gomes (Santana do Parnaíba, 1792-Campinas, 1868), o Maneco Músico, pai de Carlos Gomes e mestre-de-capela local. Apesar de Carlos ter deixado sua cidade natal definitivamente aos 23 anos mantiveram estreita amizade, que perdurou até a morte de Gomes. Dentre as peças com caricaturas que serão apresentadas neste artigo, algumas são composições de Gomes.

Emygdio atuou intensamente como copista, mas também foi flautista, compositor e comerciante. Em suas cópias costumava se expressar através das mencionadas caricaturas, que têm temas variados, podem ser sobre o trabalho que estava realizando, sobre o momento que estava vivendo ou sobre os músicos e pessoas ao seu redor. Sua atividade foi da maior importância para a vida musical em Campinas na segunda metade do século XIX. Neste artigo é abordada a iconografia que colocou sobre os manuscritos musicais e como essa atitude se integra com o fazer musical ou musicking, na linha proposta por Christopher Smaal, que considera que todos os elementos de uma peça musical, inclusive os extra-musicais, estão envolvidos e formam uma teia de sentidos agregados. A vida de Emygdio correu sem grandes arroubos, viveu durante quase toda a sua vida em sua terra natal. Foi um músico como tantos outros que, trabalhando em uma função basilar, mas pouco valorizada atualmente, a de copista, foi primordial para a sobrevivência da música brasileira dos séculos XVIII e XIX. Entretanto, tem a peculiaridade de ter sido também desenhista. Algumas das caricaturas que produziu serão apresentadas e analisadas como um registro iconográfico, na medida em que tais intervenções integravam uma ampla rede de eventos que, extrapolando a execução de determinada peça musical, esclarecem, mais de um século e meio depois de sua confecção, elementos do musicar local de sua época.

 


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