A condenação da memória do imperador Nero está ligada, em partes, à interpretação de suas atividades como músico. Há uma tradição negativa estabelecida desde a Antiguidade que forjou a imagem de um soberano que se preocupava muito mais com os afazeres musicais do que com as questões imperiais. A construção da narrativa em torno da “reputação monstruosa” tem obscurecido a compreensão precisa de seu reinado e de suas contribuições artísticas. Portanto, a presente comunicação tem como objetivo analisar a relação entre a música e o poder imperial de Nero, explorando, em particular, a representação do imperador como Apolo citaredo nas moedas cunhadas durante sua turnê pela Grécia entre 66 a 67 d.C. Por meio da iconografia dessas moedas, busca-se compreender as intenções políticas e culturais subjacentes à imagem de Nero como a divindade da música e dos conhecimentos ocultos. A análise proposta neste estudo sugere que o filelenismo neroniano deve ser entendido como um projeto político e cultural que envolve a experiência estética, e não como uma simples manifestação da afeição pessoal do princeps pela cultura grega.